sexta-feira, maio 23, 2008

Ensaios sobre a Caganeira - Passeios pela Cidade Baixa

Desculpem o tom jocoso e escatológico, mas não resisti ao trocadilho. O livro "Ensaios sobre a Cegueira" do Saramago (quem não leu, está perdendo um baita livro), no qual o filme do Meirelles é baseado, tem uma passagem muito chocante perto do final. É quando o grupo de cegos, acompanhados da mulher do médico (no livro do Saramago, as pessoas não têm nome, só a sua descrição), que é única que vê. Ela observa escrementos humanos no chão, cadáveres sendo devorados por cães, um horror.
Pois nos últimos tempos, eu que sou um morador da Cidade Baixa há mais de 25 anos, nunca vi o meu bairro tão parecido com o quadro descrito no livro do Saramago. Pelo menos no que tange aos resíduos sólidos (e líquidos) deixados por animais irracionais, alguns da raça humana. Quem transita na República ou na João Alfredo, pode observar que sempre tem cocô de cachorro por todo o lado. E de noite, pior. Um monte de relaxado mijando em árvores, muros, calçadas, etc. De quem é a culpa? No primeiro caso, os donos de cães que não juntam as fezes dos seus bichinhos. Já no segundo, é um misto dos bares que se proliferaram, vendendo cerveja barata pra gente que não vale um tostão, sem oferecer a infra-estrutura adequada para que eles tenham onde fazer suas necessidades, e da sua clientela "seleta" que não se digna a aguardar alguns minutos numa fila e prefere se expor diante dos transeuntes e carros que passam. Está na hora de alguém impor um limite a esse show de poluição visual, fedida e, se ainda não bastasse, sonora, já que há vários estabelecimentos sem alvará que vendem cerveja a verdadeiros baderneiros, que parecem ter engolido um megafone quando crianças de tão alto que gritam pela madrugada a fora.